A Helicoverpa armigera até meados de 2013 era considerada praga quarentenária A1 no Brasil, quando foram feitos os primeiros registros dessa praga nos estados de Goiás, Bahia e Mato Grosso, em culturas de algodão e soja. Esta espécie trouxe muitos prejuízos, principalmente em soja, milho, algodão e feijão. Algumas características que a colocam como praga importante são que o adulto de H. armigera tem grande capacidade de dispersão, conseguindo migrar até 1.000 km; esta espécie apresenta alta capacidade de sobrevivência em ambientes adversos, como excesso de calor, frio ou seca; seu ciclo de ovo a adulto pode ser completado dentro de quatro a cinco semanas, podendo ter várias gerações anuais; e que cada fêmea pode colocar de 2200 a 3000 ovos sobre as plantas hospedeiras, o que caracteriza elevado potencial reprodutivo desta espécie.
Os adultos desta espécie são mariposas pequenas, onde as fêmeas possuem asas dianteiras amareladas, enquanto as dos machos são cinza-esverdeadas com uma banda ligeiramente mais escura no terço distal e uma pequena mancha escurecida no centro da asa, em formato de rim. Quanto as asas posteriores, são mais claras e apresentam uma borda marrom na sua extremidade apical. As fêmeas apresentam longevidade média de 11,7 dias e os machos de 9,2 dias.
As fêmeas ovipositam durante o período noturno e colocam seus ovos de forma isolada ou em grupos pequenos, geralmente na face abaxial das folhas ou em talos, flores, frutos e brotações terminais com superfícies pubescentes. Os ovos variam de 0,42 a 0,60 mm de comprimento, possuem aparência brilhante e tem superfície esculpida em forma de nervuras longitudinais, sendo a porção apical lisa. Inicialmente são de coloração branco-amarelada, que vão escurecendo até se tornarem marrom-escuro, próximo da eclosão. O período de incubação dos ovos é em média de 3,3 dias.
Os primeiros ínstares larvais de H. armigera apresentam coloração branco-amarelada a marrom-avermelhada, com a cabeça de coloração que varia de marrom-escuro a preto. Nessa fase, as lagartas alimentam-se das partes mais tenras das plantas e produzem um tipo de teia, podendo formar um pequeno casulo.
A medida que crescem, a coloração das lagartas é influenciada pela sua alimentação, podendo ir do amarelo-palha ao verde, apresentando listras de coloração marrom lateralmente no tórax, abdômen e na cabeça.
Algumas características são determinantes para identificar as lagartas de H. armigera. Uma delas é que a partir do quarto ínstar, as lagartas apresentam tubérculos abdominais escuros e bem visíveis na região dorsal. Outra característica é a textura do seu tegumento, que é levemente coriáceo. Esta característica pode ser responsável pela capacidade de resistência que essa espécie apresenta ao controle por inseticidas químicos, como piretroides, organofosforados e carbamatos, que têm ação de contato. E outra característica é que, quando tocadas, as lagartas apresentam o comportamento de se encurvar, protegendo a cápsula cefálica em direção à região ventral do primeiro par de falsas pernas, como um sistema de defesa.
No total, o período larval de H. armigera possui seis ínstares. Após isso, a lagarta entra em uma fase de pré-pupa, onde ela cessa a sua alimentação, até pupar. O estágio de pupa dura entre 10 a 14 dias e as pupas se formam normalmente a cerca de 10 cm da superfície do solo, são de coloração marrom, com superfície arredondada nas partes terminais. Dependendo das condições climáticas, como calor ou stress hídrico, as pupas podem entrar em diapausa.
Danos
A H. armigera pode se alimentar tanto de órgãos vegetativos, como hastes e folhas, como reprodutivos, como botões florais, frutos, maçãs, espigas e inflorescências, de mais de cem espécies de plantas de importância econômica. A estimativa é de que a perda mundial de produção causada por lagartas de H. armigera anualmente chegue a 5 bilhões de dólares. Nas estruturas reprodutivas ela causa deformações ou podridões, ou até mesmo a queda das mesmas.
Controle
Para definir o nível de infestação e a época de controle de H. armigera, é fundamental o monitoramento de ovos, lagartas, pupas e de adultos. Assim, é possível definir as ações do Manejo Integrado de Pragas. Para o monitoramento, podem ser utilizadas armadilhas luminosas (para coleta de fêmeas e machos) ou armadilhas com o seu feromônio sexual como iscas (para coleta de machos). A intensidade de captura de adultos de H. armigera nas armadilhas fornece previsão do potencial de ocorrência de ovos e de lagartas e dos danos que podem ser causados no cultivo.
É recomendado utilizar cultivares geneticamente modificadas que expressam a toxina Bt.
Nos primeiros ínstares larvais é o momento considerado mais adequado para o controle químico, pois nesses estágios as lagartas estão mais expostas e mais suscetíveis a pulverização dos produtos químicos. Para essas aplicações, é de importância fundamental rotacionar os produtos com modos de ação diferentes dos ingredientes ativos, de forma a reduzir a pressão de seleção e o possível desenvolvimento de resistência dessa praga aos produtos. Também é recomendado utilizar inseticidas biológicos ou químicos seletivos aos inimigos naturais.
Os adultos de H. armigera podem ser controlados por meio de iscas tóxicas à base de melaço ou açúcar e inseticida carbamato. Dessa forma, essa mistura pode ser aplicada nas bordaduras do cultivo.
Como formas de controle cultural que estão sendo utilizadas estão o revolvimento do solo em áreas com alta infestação da praga, para a destruição de pupas de H. armigera pela exposição das pupas ao calor e inimigos naturais, especialmente em sistemas irrigados; e a eliminação de plantas tigueras e de rebrotas, especialmente da soja e de algodão.
Uma técnica de controle cultural que está sendo usada na Austrália, especialmente em cultivos de algodão, para controle H. armigera é a Push and Pull. Esta estratégia de manejo constitui-se de duas culturas, sendo uma considerada a cultura principal, a qual se deseja proteger contra a praga, e outra a cultura armadilha. Um exemplo é pulverizar azadiractina (óleo de neem) sobre um cultivo de algodoeiro e açúcar ou feromônio de agregação de H. armigera sobre um cultivo de guandu. Dessa forma, os adultos dessa praga evitarão ovipositar no algodoeiro (efeito push) e intensificarão a oviposição nas plantas de guandu (efeito pull). Para finalizar essa técnica de controle, as lagartas de H. armigera devem ser controladas no cultivo de guandu, utilizando um inseticida químico ou biológico (como o baculovírus).
O controle biológico de H. armigera com táticas de preservação ou de incremento dos inimigos naturais nos cultivos é algo que precisa ser mais estudado nas condições brasileiras, mas já foram relatados casos de inimigos naturais realizando o controle de populações de H. armigera de forma natural. O baculovírus é um inseticida biológico que tem sido eficiente no controle desta praga em vários países da Europa e da Ásia, e também pode ser utilizado no Brasil. Outra possibilidade é o controle biológico aplicado por meio de parasitoides de ovos do gênero Trichogramma.
Pesquisas com Helicoverpa armigera
Por ser uma espécie que chegou a pouco tempo no Brasil, é importante que sejam desenvolvidos estudos do comportamento de H. armigera nas nossas condições climáticas, para o desenvolvimento de formas mais eficazes de controle dessa praga.
A Helicoverpa armigera faz parte do portfólio de lepidópteros produzidos pela equipe da Pragas.com! Se você está desenvolvendo algum estudo/experimento que necessite dessa espécie, entre em contato conosco!
Este artigo teve como referências:
https://www.agrolink.com.br/problemas/helicoverpa_3056.html
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-204X2016000500527&script=sci_arttext&tlng=pt
https://www.grupocultivar.com.br/artigos/aprenda-a-controlar-a-lagarta-helicoverpa-armigera
https://www.grupocultivar.com.br/artigos/aprenda-a-controlar-a-lagarta-helicoverpa-armigera