Guia Rápido #9: Spodoptera cosmioides: Saiba mais sobre a Lagarta-das-vagens.


Entre as espécies do gênero Spodoptera que ocorrem no Brasil, S. cosmioides se destaca pelo alto nível de polifitofagia, pois se alimenta de grande número de plantas cultivadas e também espontâneas. Algumas culturas de interesse econômico que ela causa danos são amendoim, alfafa, algodão, arroz, aspargo, aveia, batata-inglesa, berinjela, beterraba, cafeeiro, cebola, couve-nabo, ervilha, eucalipto, feijão, gerânio, girassol, fumo, linho, macieira, milho, pimentão, soja, sorgo, tomate, trigo, mamona e caupi. Apesar de S. cosmioides ser uma praga mais importante atualmente em cultivos anuais, tem aumentado sua presença também em culturas perenes, com destaque para as áreas de Eucalipto. Isso ocorre provavelmente pela proximidade das áreas de cultivos anuais com as de eucalipto, além da oferta de alimento durante todo o ano.

Uma curiosidade é que Spodoptera cosmioides é muito semelhante a Spodoptera latifascia (Walker), mas S. cosmioides é nativa da América do Sul enquanto S. latifascia ocorre principalmente nos Estados Unidos e América Central. A ocorrência de S. cosmioides no Brasil em áreas cultivadas tem sido relatada desde a década de 1980.

Uma fêmea pode depositar até 500 ovos por dia, em condições favoráveis. A forma de postura dos ovos de S. cosmioides é muito semelhante à de S. frugiperda, em camadas sobrepostas (agrupados em massas), são cobertos com as escamas do corpo da mariposa e postos nas folhas baixas das plantas. Os ovos são alaranjados e eclodem por volta de 4 dias após a postura.

As fases imaturas (lagartas) desta espécie são de coloração marrom a preta, com pontuações douradas ou brancas e triângulos pretos dorsais distribuídos ao longo de duas linhas longitudinais amarelas ou douradas mais aparentes que passam por todo o dorso e chegam até a cabeça, que é castanho-amarelada ou alaranjada e de dimensões bastante reduzidas. Passam por 6 a 8 ínstares, dependendo da planta hospedeira. No último ínstar, as lagartas tornam-se pardas e apresentam uma faixa mais escura entre o terceiro par de pernas torácicas e o primeiro par de falsas-pernas abdominais, além de outras duas faixas na extremidade do abdome, e medem em torno de 48 mm de comprimento.

Próximas da fase de pupa, apresentam uma faixa anelar preta após as patas torácicas e outra no final do abdômen. As pupas se formam no solo, inicialmente são verde-claras, mas logo nas primeiras horas se tornam castanho-claros e escurecem gradativamente. As pupas medem entre 20 e 23 mm de comprimento e esta fase tem duração de 14 a 18 dias.

Os adultos desta espécie são mariposas de hábito noturno, com 33 a 40mm de envergadura. As asas são membranosas e recobertas por escamas. As fêmeas possuem coloração parda com desenhos em mosaico brancos nas asas anteriores e asas posteriores brancas. Os machos apresentam as asas anteriores amareladas com desenhos escuros, caráter que permite a diferenciação sexual da espécie.

  1. cosmioides, assim como S. eridania, possui maior preferência pela cultura da soja, atacando as plantas principalmente na fase reprodutiva. Mas também pode atacar outras culturas, como algodão e milho.

A duração do ciclo de vida varia conforme fatores bióticos e abióticos, ficando em torno de 40 a 46 dias, ou seja, é relativamente curto. Junto com outras características como alto potencial reprodutivo, a polifagia e a sobreposição de culturas hospedeiras na mesma área, a S cosmioides tem sido favorecida e tem aumentado a importância das suas populações nas áreas agrícolas.

Comportamento

Em geral, S. cosmioides são encontradas na parte mediana e inferior das plantas (assim como as lagartas de S. eridania) e são mais ativas nas horas mais frescas do dia e durante o período noturno.

Danos

As lagartas de S. cosmioides possuem alto potencial de desfolha (podem consumir quase o dobro de área foliar comparado as demais espécies de lepidópteros de importância econômica para a cultura da soja no Brasil) e destroem também as estruturas reprodutivas.

Na soja, pode causar grandes danos perfurando as folhas e as vagens. No Brasil, a espécie S. cosmioides é considerada praga-chave em soja desde o início do cultivo em larga escala da soja geneticamente modificada que expressa a proteína Cry. Esta espécie apresenta baixa suscetibilidade à esta proteína Bt, e tem grande importância por causar danos significativos no produto final.

No algodão, perfuram os botões florais e as maçãs, alimentando-se das sementes. Podem promover a perda total das maçãs atingidas.

Na cultura do milho é menos frequente, não causando danos significativos como outras pragas que acabam sendo mais importantes nessa cultura. Na safra de 2013, ocorreram relatos da presença de S. cosmioides em cultivos de milho transgênico Bt nas regiões de Carira – SE e Paripiranga – BA, indicando que as proteínas Cry em cultivares Bt não possuem boa efetividade no controle de Spodopteras, o que faz com que outras formas de controle se mantenham importantes para o manejo desta praga.

Monitoramento

Assim como para as outras espécies, o monitoramento da presença e nível de infestação é fundamental para auxiliar no controle da praga. O principal método utilizado para monitoramento de lagartas tem sido o pano-de-batida, onde recomenda-se a utilização do pano-de-batida vertical com a amostragem em apenas uma fileira de plantas por vez, repetindo em dois pontos para totalizar 1 m². Também é recomendado fazer uma avaliação visual do nível de desfolha em cada ponto de amostragem, para se ter um parâmetro melhor do nível populacional.

Pelo comportamento da praga, é importante que a amostragem seja realizada nos horários mais frescos do dia, para definição mais precisa do nível populacional.

Em relação ao nível de controle, é recomendado entrar com método de controle ao alcançar 30% de desfolha no estádio de desenvolvimento vegetativo e 15% de desfolha no estádio reprodutivo. Considerando o ataque nas vagens, o nível de ação para se utilizar o controle químico é de 10% das vagens atacadas. Considerando a amostragem pelo método da batida de pano para contagem de insetos, o nível de ação é de 20 lagartas grandes (>1,5 cm) por metro.

Controle

Se a forma de controle a ser utilizada for o químico, o tamanho das lagartas influencia diretamente na eficácia do controle. Aplicando o inseticida com as lagartas ainda pequenas permite uma maior gama de opções de inseticidas (com maior alternância de produtos químicos, reduz-se o risco de desenvolvimento de resistência), a eficácia de controle é maior e os custos poderão ser menores. A adição de inseticidas organofosforados pode melhorar o controle caso haja predomínio de lagartas grandes, mas o uso deve ser evitado porque pode causar aumento populacional de outras pragas secundárias.

O controle biológico de lagartas do gênero Spodoptera acontece por vezes de forma natural, sendo realizado principalmente por predadores (Podisus nigrispinus), parasitoides (Trichogramma spp., Telenomus spp., Campoletis sonorensis, Chelonus sp. e Trichospilus diatraeae), fungos (Beauveria bassiana, Metharizium anisopliae e Nomuraea sp) e vírus entomopatogênicos (Baculovirus), que podem ajudar no controle da praga.

Devido as ocorrências de controle biológico de forma natural, medidas conservativas que visam a preservação dos inimigos naturais nas áreas de produção são recomendadas, como o uso de produtos fitossanitários seletivos. Entre os inseticidas considerados mais seletivos aos inimigos naturais encontram-se os inseticidas do grupo dos reguladores de crescimento popularmente conhecidos como “fisiológicos” (diamidas e espinosinas), além dos inseticidas biológicos (vírus e bactéria). Deve-se evitar a utilização de inseticidas do grupo dos piretroides no controle dessas pragas por serem, geralmente, mais tóxicos (não seletivos) aos seus inimigos naturais.

Este artigo teve como referências:

https://www.agro.bayer.com.br/alvos/lagarta-do-complexo-spodoptera#tab-2

https://www.researchgate.net/publication/260331136_Comunicado_Tecnico_Spodoptera_cosmio[…]tera_Noctuidae_Novas_Pragas_de_Cultivos_da_Regiao_Nordeste


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